Desde Isaac Newton (1642-1727), defendia-se que a luz era formada de partículas, bastando ver que a luz ultra-violeta, de alta energia, ao incidir sobre um metal condutor de eletricidade, desloca elétrons e produz o efeito fotoelétrico - só uma particula (luz) pode se chocar com outra (elétron) para produzir o movimento desta última.
Esse modelo era combatido por Christiaan Huygens (1629-1695), que defendia a teoria ondulatória, pela qual a luz seria formada de ondas, tanto que, incidindo sobre um anteparo com duas fendas, um raio de luz passa simultaneamente por ambas as fendas, provocando efeitos de claro-escuro numa tela receptora colocada atrás do anteparo -uma partícula, com efeito, não passaria pelas duas fendas.
Dois modelos distintos, incompatíveis e mutuamente excludentes, alicerçados em sólidas razões científicas, como pode? Qual seria o modelo correto?
Em 1905, Albert Einstein (1879-1955) resolveu o impasse, ao postular que a luz pode assumir os dois modelos de comportamento, o de Newton e o de Huyghens, apresentando-se ora como partícula, ora como onda. Dezoito anos depois, o francês Louis de Broglie (1892-1987) defendeu que o caráter dual onda-partícula não era uma exclusividade da luz, sendo extensível às demais partículas subatômicas, o que foi posteriormente demonstrado por experiências científicas de alta precisão. Todas as partículas subatômicas, incluindo prótons, elétrons e nêutrons, são ora partículas, ora ondas!
E não é só. O dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) enunciou, em 1928, o princípio da complementaridade, pelo qual quem vê onda vê somente onda e quem vê partícula vê somente partícula. Só um dos modelos é percebido pelo observador: na experiência do efeito fotoelétrico, a luz se comporta como partícula, sem mostrar seu caráter igualmente ondulatório; na experiência da dupla-fenda, a luz tem o caráter de onda, escondendo a alternativa corpuscular.
Conclusão: a natureza, ambígua e escorregadia, tem dois modelos, mas só mostra um de cada vez!
Ou isto ou aquilo
Ou isto ou aquilo
É então que entra em cena o poema "Ou isto ou aquilo", de Cecília Meireles, publicado em 1964:
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Cecília Meireles (1901- 1964) sabia de complementaridade, tanto quanto Einstein, de Broglie e Niels Bohr, ela, que a esse fim, nunca precisou ir a nenhum laboratório, cujo, no seu caso, guardava-o na própria alma.
Ou isto ou aquilo
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Cecília Meireles (1901- 1964) sabia de complementaridade, tanto quanto Einstein, de Broglie e Niels Bohr, ela, que a esse fim, nunca precisou ir a nenhum laboratório, cujo, no seu caso, guardava-o na própria alma.
Um comentário:
Para muitos a dúvida seria:existiria esta dualidade?
-Partícula,Onda da Radiação sobre o caráter ondulatório ou corpuscular realmente?
Mas, Einster apresentou uma teoria estabelecendo os limites da validade de um ou outro comportamento não duvidando do caráter dualistico da radiação como diz o autor:
_Ora ondulatório,ora corpuscular,pois não são contraditórios, mas complementares, e são detectáveis separadamente.
Assim na experiência demonstrada da dupla fenda, a luz é ondulatória, ao passo que no efeito fotóelétrico a natureza que ressalta é a radiação corpuscular.
Sob o ponto de vista moderno depois de que sabemos, parece natural imaginar que esta dualidade também seja verdadeira para a matéria.
Broglie considerou a questão mais simples possível:
_Isto é um corpúsculo e movimento retilíneo, uniforme com energias e momentum conhecidos.
Einstein, provou a ambigüidade e natureza dual da materia e energia sendo elas constituídas de um feixe de partículas elementares, ou nucleos atômicos.
Disse Niels Bohr:
_Qualquer um que não se choque com a Mecânica Quântica é porque não a entendeu!
Cecília Meireles:
Freud disse:
_Seja qual for o caminho que eu escolher,o poeta já passou por ele antes de mim.
Ela conseguiu expressar tão bem esta questão das escolhas:
Complementariedade de Cecília é uma manifestação diferente de um mesmo fenômeno que pode ser investigado ou medido separadamente, mas não simutâneamente.
As escolhas se apresentam a cada instante as nosssas vidas, e cada grau das minhas escolhas tomam dimensões maiores.
Se eu não me arrisco ficarei dentro da casca do ovo.
Ou sou feliz, ou não arrisco.
Se não me arrisco, nunca vou ter certeza se poderá dar certo.
São estas opções diárias que nos trazem a alegria de poder transpor, conquistar, ousar.
A vida nos põe à prova toda hora e seria insurportável se não nos porporcionasse mudanças.
Está aí: Ou Isto ou Aquilo onde a autora também convulsiona a lógica discursiva pedindo urgencia na reordenação do que seria um Novo Mundo!
Maria das Graças.
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