sábado, 7 de janeiro de 2012

AS DUAS FACES DE JANO

A FAVOR DA VIDA E A FAVOR DA MORTE



Jano, o deus romano que tem duas faces voltadas para direções opostas, uma para o passado, outra para o futuro, serve como metáfora para simbolizar que a ciência pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal.
Suponhamos o ano de 1912. Uma das faces de Jano, olhando então para o passado, terá visto o alemão Fritz Haber (1868-1934) como um paladino da humanidade, por ter criado em 1909 um processo de produção de amônia para fertilizantes, sem o qual não haveria alimentos suficientes para as necessidades do mundo. Não fosse pelos fertilizantes nitrogenados, a população mundial não teria alcançado senão 50 % dos seus níveis atuais. Por esta razão, Haber ganhou merecidamente o Prêmio Nobel de Química, em 1918.


Ainda em 1912, a outra face de Jano, a que olha para o futuro, pôde contemplar o mesmo Fritz Haber usando gás cloro contra os inimigos, o que foi feito pela primeira vez na Batalha de Ypres, na Bélgica, em 22 de abril de 1915, com o próprio Haber conduzindo as operações. Era o início de uma crônica de extermínio que, só na Primeira Guerra Mundial, registra a morte de mais de cem mil soldados. Clara Haber, que também era cientista, suicidou-se com um tiro no peito, em protesto contra a atuação do marido no front da guerra química.

Clara Haber

Isso mesmo. Os fertilizantes, que ajudam a vida, e a guerra química, que se destina à morte, nasceram pelas mãos do mesmo cientista. De um lado, o Prêmio Nobel e do outro, o remorso de ter provocado o suicídio da mulher querida. Em 1927, em carta a um amigo, Fritz Haber fez a seguinte confissão:

- "Estou lutando, cada vez mais depauperado, contra meus quatro inimigos: a insônia, as reivindicações financeiras da minha segunda esposa Charlotte Nathan, minha preocupação com o futuro e a sensação de haver cometido graves erros em minha vida."

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