DA ARTE DE FALAR DIFÍCIL
Nastenka
A pensão da Tijuca era uma festa. Carlos de Proença, o hóspede mais extravagante, gostava de usar expressões complicadas, das quais não me esqueço de "mateologia holística", "reversão dialógica" e "tmeses ataviadoras". Ele se recusava a esclarecê-las, mesmo não sendo entendido por ninguém.
- Louçanias, senhores, meras louçanias de linguagem. Não existem para ser explicadas, nem me cabe nenhuma obrigação de dar milho aos pombos.
Certa vez, quando se conversava no jantar sobre decisões políticas controvertidas, deixou escapar alguma coisa em latim, "beati monoculi in regione caecorum", provocando reações irônicas.
- Na minha terra quem fala bonito é o prefeito, observou Zé Terra, o pernambucano que bate na mulher.
- Na Ucrânia a lei da vida é muito outra, pois escreveu, não leu, o pau comeu, acrescentou Nastenka Danielovitch. Lá o pau come solenemente!
- Vocês são estupefativos, rebateu Proença, com sarcasmo..
- O quê?
- Gente de visão plúmbea, ímproba e mitigada.
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