sábado, 12 de junho de 2010

Duas poesias de Dante Milano

Paragem



Com os meus bois,
Os meus bois que mugem e comem o chão,
Os meus bois parados,
De olhos parados,

Chorando,

Olhando...

O boi da minha solidão,

O boi da minha tristeza,

O boi do meu cansaço,
O boi da minha humilhação.

E esta calma, esta canga, esta obediência.


Dante Milano

O amor de agora é o mesmo amor de outrora

O amor de agora é o mesmo amor de outrora

Em que concentro o espírito abstraído,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.


Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido

Que me causa a impressão de andar perdido

Em busca de outrem pela vida afora.

Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,

E em sua treva um ser de luz desperta.


E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,

Qualquer coisa de agora mas de eterno.

Dante Milano (1899-1991), em "Poesias"

Um comentário:

cirandeira disse...

Lindos poemas!
Ainda não conhecia esse poeta...
Obrigada pela oportunidade de.

Um abraço