sábado, 9 de maio de 2009

A IMAGEM DO UNIVERSO (24/n)

GALILEU GALILEI, O ANTICRISTO (1/2)

A concepção planetária de Copérnico reintroduzia, quase vinte séculos depois, o sistema heliocêntrico de Aristarco, com a Terra e o homem retirados do centro do Universo. Todavia, sua aceitação, em substituição ao sistema geocêntrico, iria requerer longo tempo e acalorados debates, num processo cheio de incompreensões, intolerância e heroísmo.

Galileu

O protagonista nesse processo de aceitação das ideias copernicanas foi Galileu Galilei (1564-1642), um dos personagens mais fascinantes da história da ciência, que vem inspirando inumeráveis textos, biografias, peças de teatro e até um pedido de desculpas por parte da Igreja Católica, em 1992.
Natural de Pisa,
Galileu começou como estudante de medicina, mas graduou-se como professor de matemática. Tinha enorme curiosidade a respeito do mundo, era inquisidor e pouco disposto a aceitar alguma coisa só porque defendida por professores, teólogos ou autoridades.
Conta-se que, ao observar um candelabro durante uma cerimônia religiosa, pôs-se a comparar suas oscilações com as batidas do próprio pulso, o que o levou a descobrir que o período de oscilação de um pêndulo depende unicamente do seu comprimento, sem influência do ângulo ou do peso; a descoberta conduziu à construção do pulsilógio, um instrumento que permitia medir o tempo, tanto quanto a pulsação de um paciente.

Outra de suas invenções foi a bússola militar, na verdade uma régua de cálculo primitiva, que foi logo comercializada, pois servia às operações aritméticas, ao cálculo de juros e à obtenção das derivas e alças dos canhões militares.

Estudo do movimento

Galileu destacou-se inicialmente pelo estudo que fez do movimento, pavimentando muito bem o caminho que Isaac Newton utilizou para chegar à Mecânica Clássica. Descobriu que os corpos caem no vácuo sensivelmente com a mesma velocidade, ao contrário do que sustentava Aristóteles, cuja pressuposição era a de que os corpos pesados cairiam mais depressa. Teve então a ousadia de declarar que Aristóteles "produzira o oposto da verdade". Não foi só. Introduziu a fórmula do movimento uniformemente acelerado, criou o conceito de referencial inercial, estudou o movimento dos projéteis e formulou o princípio da inércia, posteriormente transformado em Primeira Lei de Newton:

“ Um corpo não pode por si só modificar o seu estado de repouso ou de movimento retilíneo uniforme”.

Por desconhecer o princípio da inércia, os antigos imaginavam que, se a Terra se movesse, uma pedra lançada verticalmente para cima haveria de cair longe do ponto de lançamento, "no quintal do vizinho". Não sabiam que por inércia tudo na Terra conserva desta o movimento, em todos os processos e circunstâncias.

Mensageiro das Estrelas


Ao aperfeiçoar a luneta inventada pelo holandês Hans Lippershey, Galileu pôde fazer observações celestes que revolucionaram a astronomia: examinando a Lua, constatou que era cheia de montanhas, abismos e sinuosidades, o que estava em desacordo com a visão aristotélica de que os corpos celestes eram esferas perfeitas; viu também um Sol cheio de manchas, longe de ser perfeito, e quatro luas movimentando-se em torno de Júpiter, ou seja, um desconcertante caso de astros que não giravam em torno da Terra.
Estas descobertas, publicadas em 1610, num livrinho de 24 páginas, “Sidereus Nuncius” (“Mensageiro das Estrelas”), começaram a desiquilibrar o jogo em favor de Copérnico. Para o historiador J. R. Ravetz, foi esse o maior clássico de ciência popular de todos os tempos, imediatamente traduzido para vários idiomas, incluindo-se o chinês, numa versão preparada por um padre jesuíta.

Galileu percebeu depois as fases de Vênus, semelhantes às da Lua, conforme previsto por Copérnico, e, mais, os anéis de Saturno e vastas aglomerações estelares, arrolando 80 estrelas a mais do que o habitual no agrupamento estelar das Plêiades de Órion. Suas observações demonstravam sempre que o modelo centrado na Terra não podia mais ser defendido.
Não obstante a popularidade de Galileu, a maioria dos astrônomos e intelectuais reagiu com ceticismo ou indiferença.
Eles tinham passado a vida aceitando a solução geocêntrica e não estavam dispostos a admitir que haviam acreditado e laborado no erro.
Os satélites de Júpiter implodiam o aristotelismo e por isso suscitaram apaixonados debates entre copernicanos e aristotelistas. Um colega da Universidade de Pádua, César Cremonini, recusou-se a olhar pela luneta, e um astrônomo do Colégio Romano, padre Cristóvão Clavius, afirmou que as luas de Júpiter "eram motivo para riso e que seria necessário fazer uma luneta que as fabricasse, para depois tentar vê-las." Outro astrônomo, Martin Horky, escreveu uma carta para Kepler, na qual zombava de Galileu, "com aquela luneta que lhe permite ver quatro luas imaginárias!"

Io, Europa, Ganimedes e Calisto, satélites de Júpiter

Aos que a ele se opunham com argumentos religiosos e textos bíblicos, Galileu respondia que os religiosos deveriam restringir-se ao mundo espiritual, deixando a ciência para os cientistas.

- A Escritura Sagrada destina-se a ensinar como chegar ao Céu e não para explicar como o céu funciona.

Kepler apoiou Galileu incondicionalmente e acabou conseguindo uma luneta, o que lhe permitiu comprovar pessoalmente que os satélites de Júpiter realmente existiam.
(continua)

Um comentário:

cirandeira disse...

Olá Remo, por onde anda você, está em qual satélite? Faz algumas luas que você não aparece...! Mudou de planeta? Está planejando passar as próximas férias na lua? A passagem é caríssima! rsss
Um grande abraço