sábado, 25 de outubro de 2008

A IMAGEM DO UNIVERSO (1/n)

REPRESENTAÇÕES DO UNIVERSO

Preocupado em saber sobre sua origem, condição e destino, o homem sempre especulou sobre a imagem do Universo. A esse fim, os estudos astronômicos eram já notáveis no âmbito
das grandes civilizações do Crescente Fértil, incluindo o Egito e a Mesopotâmia, três mil anos antes de Cristo, passando depois pelos gregos e tomando grande impulso com as descobertas revolucionárias de Copérnico, Galileu, Kepler e Newton. Até que se chegou à concepção de que o Universo teve um início compacto, quente e denso e expande-se há mais de dez bilhões de anos.
Eis um passeio que vale a pena fazer, desde as concepções babilônicas, em que o Universo tinha três andares, como nesta postagem, até o contemporâneo conceito do Big Bang, que detonou o "Átomo Primordial" e permitiu a formação das estrelas, planetas, quasares e buracos negros.

Johannes Kepler (1571-1630)

Muitos historiadores defendem que há uma estreita correlação entre a imagem que uma sociedade faz de si mesma e a que ela confere ao Universo, o qual, nas concepções mais antigas, era limitado à Terra, planetas e seus satélites e às estrelas visíveis, como no modelo proposto por Aristóteles, com a Terra no centro do Universo, que prevaleceu durante quase vinte séculos.
Depois, mesmo antes de Newton, o Universo tornou-se infinito, tanto quanto o espaço e o tempo.

- Oh, Deus! Eu poderia estar encerrado numa casca de noz e, ainda assim, considerar-me rei do espaço infinito, se a mim não me coubessem tantos pesadelos.
("Hamlet", Cena II, Ato II)

Na concepção atual, a do Big Bang, o Universo é considerado finito, não obstante suas proporções inimagináveis, com 10 bilhões de trilhões de estrelas, distribuídas em cerca de cem bilhões de galáxias. Nossa intenção é fazer um exame de algumas das concepções e representações do nosso mundo, num trabalho de compilação destituído de rigor científico, numa série de postagens semanais.

Os astrônomos da Mesopotâmia

Mesopotâmia

São chamadas de civilizações do Crescente Fértil aquelas da Antigüidade que se desenvolveram nas regiões atravessadas pelos grandes rios do Oriente (Nilo, o Tigre e o Eufrates), que levam abundância e riqueza para o meio do deserto, com destaque para a Mesopotâmia, sucessivamente habitada pelos sumerianos, acádios, babilônios, assírios, elamitas e finalmente pelos cadeus ou novos babilônios. Eram impérios centralizados, com reis que se confundiam com deuses e eram assessorados por sacerdotes, que monopolizavam todo o conhecimento.
Alguns sacerdotes babilônios eram astrônomos, encarregados de organizar o calendário para orientar as tarefas agrícolas e estabelecer as datas das festas religiosas - ao inventar a agricultura, o homem passou a ter a necessidade de plantar e colher nos momentos adequados. O calendário do céu, as fases da lua, a posição dos astros, as estações e a variação dos dias e das noites, tudo passava a ser fundamental para a vida das pessoas.
Tornando-se cada vez mais competentes, os sacerdotes-astrônomos eram capazes de antecipar as posições do Sol e da Lua e de fazer previsões de eclipses. Deles é que veio a descrição do céu que predominou durante muito tempo e a concepção de que o mundo era pequeno, fabuloso, dominado pelos deuses que se manifestavam mediante fenômenos naturais e no qual o homem desempenhava um papel central.


Torre de Babel (Pieter Bruegel)

Eles colhiam suas observações de observatórios conhecidos como zigurates, que eram torres quadradas de sete andares. Costuma-se explicar os sete andares das torres pela correlação com o número de "astros errantes" (planetas) então conhecidos: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. O mais famoso zigurate foi a Torre de Babel, construída na cidade de Babilônia, o centro cultural da Mesopotâmia. Para a Bíblia, a Torre de Babel era o símbolo da presunção humana, no seu delírio de alcançar o céu.

Astrologia


E no céu havia ainda o espetáculo mítico e a imagem da imortalidade. Um subproduto desse conhecimento astronômico foi, com efeito, a edificação de um fantástico esquema de astrologia, pois se acreditava que os astros controlassem os destinos humanos. Notáveis eram os astrólogos caldeus, com predições que se referiam apenas à coletividade e ao rei, pois não se ocupavam, como atualmente, do destino dos indivíduos em função de sua data de nascimento. Foram os sacerdotes babilônios que fizeram o inventário das constelações do zodíaco, com sua divisão em doze signos, de trinta graus cada um, que serviam como referência para acompanhar a progressão dos planetas ao longo do ano.

A Imagem do Mundo para os Babilônios

Ter uma concepção acerca do Universo, mesmo de forma rudimentar, implica construir um modelo a partir da observação, acumulando informações sobre a trajetória do Sol, as fases da lua, a rotação de céu noturno, a mudança do clima, eventos que estão ligados ao cotidiano das pessoas e as orientam no espaço e no tempo.
Nem importa que as informações se misturem aos mitos - o modelo de uma época é o que se pôde elaborar nessa época.
A concepção dos babilônios sobre o mundo foi uma das mais importantes formulações da Antigüidade sobre o Universo, tendo por núcleo uma caixa, cujo fundo era a Terra. A Babilônia situava-se no centro da Terra, que era como um disco plano flutuando sobre o oceano, além do qual se seguiam montanhas celestes, que suportavam o Céu.

Deus Anu

Acima da Terra, estava o Céu, onde residia o grande deus Anu, e, embaixo, os infernos. Essa disposição vertical, em três andares, reflete a hierarquização dos personagens: o deus acima dos homens e estes, acima dos condenados.
(continua)

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