quinta-feira, 1 de maio de 2008

Meu professor de Inglês

Vaca-rapaz

Não me lembro de nenhum professor especialmente preparado, nem de colegas muito inteligentes. Éramos, de fato, uma assembléia de mediocridades, considerados ambos os lados da mesa. Eu, pobre de mim, sempre gostei de problemas de aritmética, palavras cruzadas e quebra-cabeças, e tinha um desempenho saliente em Inglês, o que não chegava a ser nenhuma façanha, nem podia ser avaliado, pois o professor era daqueles que traduziam “cowboy” por “vaca-rapaz” e “what does he do?” por “que faz ele fazer?”

- Doutor Vacaria, não seria melhor traduzir “cowboy” por “vaqueiro” e “what does he do?” por “o que ele faz?”

"vaca-rapaz"

Como o professor nada respondeu, entendi que havia sido grosseiro e inconveniente. Mais uma vez, sim, mais uma vez. Para minha surpresa, porém, ele voltou ao assunto na aula do dia seguinte, embora de forma indireta e metafórica. Elogiou o padre Eleutério, que sempre se penitenciava dos seus erros, a inteligência de Santo Agostinho, que na fé conheceu a razão e a felicidade, e a humildade de Francisco de Assis, que se dedicou a um ideal de pobreza e por isso recebeu os estigmas das chagas de Cristo.

- À estupidez sempre há de contrapor-se o discernimento, e só os idiotas não mudam. Prevaleçam, pois, a razão e a verdade, mas também a inteligência, para reconhecer os equívocos, e a humildade, para proclamá-los sem nenhum constrangimento. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

A custo consegui entender que Yrves Vacaria de Bastos Viamão estava aceitando a minha sugestão. Desde então “vaca-rapaz” e “o que faz ele fazer?” perderam a vez para “vaqueiro” e “o que ele faz?”, nas aulas de Inglês de Barro Verde. E não era só, pois fui dispensado dos exames finais e aprovado com nota oito, vírgula três.

- The rest is silence.

- The rest is silence.

2 comentários:

Anônimo disse...

O primeiro capítulo do Homem Horizontal é uma avaliação enaltecendo a Humildade do professor em reconhecer os erros cometidos, mostrando a sabedoria do mestre, pois estamos aqui para vivenciarmos e experienciarmos o certo e o errado, para termos uma bagagem com discernimento como muito bem diz o autor.
O resto é silêncio!
O silêncio é um espião!
Mario Quintana.
Maria das Graças.

Anônimo disse...

Segue também um comentário sobre a Humildade, a Sabedoria e o Desapego:
Existiu há 1200-1100 aC;um Templo Sagrado, "Oráculo de Delfos" muito venerado pelo povo Grego onde viveu Sócrates o Filósofo:
__Chegou um discípulo até ele do Templo dizendo que lhe tinha sido revelado que Sócrates, era o homem mais sábio da Terra da época.
Mas ele respondeu:
__Eu também achava, mas hoje aconteceram vários fatos que não tive como resolvê-los, portanto volte e diga ao Oráculo de Delfos que: NADA SOU!
Este voltou e narrou o que Sócrates havia dito, e a resposta no Templo, foi:
__Por isto que ele é o mais sábio dos homens!
Maria das Graças.