sábado, 6 de dezembro de 2008

A IMAGEM DO UNIVERSO (7/n)

O UNIVERSO PITAGÓRICO

Pitagóras e seus seguidores dividem o cosmos em duas regiões, uma sublunar, sujeita a transformações, e outra, supralunar, divina e incorruptível. Embaixo da Lua, o mundo caracteriza-se pelas alterações, movimentos violentos e trajetórias imperfeitas, sendo regulado por leis físicas, ou seja, seus fenômenos são determinados por causas naturais; acima da Lua, o que há é o mundo dos astros, divino, perfeito, dos movimentos circulares, invariável e eternamente igual a si mesmo.
Essa concepção será posteriormente assumida por Aristóteles, que considera o mundo sublunar
composto pelos quatro elementos, terra, ar, fogo e água, da teoria de Empédocles. Para Aristóteles, na região supralunar os astros são constituídos do éter ou "quinta-essência".

As concepções dos Pitagóricos sobre o Universo enquadram-se nas suas idéias religiosas. Deus é um geômetra identificado com a perfeição, e esta se reflete na estrutura perfeita do mundo, de proporções matemáticas. Para eles, os sete “planetas” (aí incluindo-se o Sol e Lua) e a esfera das estrelas fixas giram em círculos, em torno da Terra, que permanece, imóvel, quieta, quieta, na sintaxe do Universo.
A idéia do círculo, assumida posteriormente por Platão, iria prevalecer até o advento das Leis de Kepler, estabelecendo diversamente e de maneira definitiva que os planetas não descrevem órbitas circulares, mas elípticas, tendo o Sol permanentemente como um dos focos.

A música celestial

Pitágoras entende que os planetas tocam uma música celestial, produzida por cordas sonoras definidas pelas distâncias planetárias, que os humanos (à exceção do próprio Pitágoras) não conseguem ouvir por estarem imersos na harmonia divina.
Os planetas "dançam" ao som dessa música. As relações musicais eram definidas da seguinte forma:

- entre a Terra e a Lua, o intervalo musical é de um tom;
- entre Marte e Júpiter, de um semitom;

- entre Júpiter e Saturno, de um semitom;

- entre Saturno e a esfera das fixas, de uma terça menor.


Música celestial

Além disso, na concepção pitagórica, as separações entre as órbitas planetárias obedecem a alguma lei matemática, a ser descoberta, idéia que perdurou por muitos séculos. O próprio Johannes Kepler descobriu as leis dos movimentos dos planetas quando fez uma quantidade formidável de cálculos, na tentativa de relacionar matematicamente suas distâncias com os cinco sólidos platônicos, cujas arestas formam polígonos planos regulares congruentes: tetraedero, cubo, octaedro, dodecaedro e icosaedro.
Os Pitagóricos também defendiam a esfericidade da Terra, pelo só motivo de que a esfera é perfeita, no que se valiam também dos relatos das observações dos navegantes de longo curso.

Filolau

Não obstante, o pitagórico Filolau decidiu tirar a Terra do centro do Universo. Dele sabe-se muito pouco: nasceu em Crotona, pelos meados do século V a. C., era médico e astrônomo e foi mestre de Demócrito e Arquitas. Escreveu um livro, do qual restaram poucos fragmentos, tratando-se do primeiro escrito sobre o pensamento pitagórico. Esse livro teria tido grande influência sobre Platão, que o adquiriu por quarenta minas.
Escreveu Filolau:

"Tudo que é conhecido tem número;
nada é possível pensar ou conhecer sem ele."


Filolau concebeu um sistema cosmológico em que a Terra não era imóvel, nem o centro do mundo. Para ele, a Terra "dança" pelo cosmos, tanto quanto a esfera das fixas e os sete "planetas" (incluídos o Sol e a Lua), ao redor de um fogo central (que chamou de Héstia).
Seu sistema tem, inicialmente, a Terra, mais sete "planetas" e mais a esfera das fixas, num total de nove astros. Para chegar a dez, número da perfeição, Filolau acrescentou um astro simétrico à Terra, a Antiterra, que não vemos porque gira com a mesma velocidade daquela, no lado oposto do fogo central.
Ao estudar posteriormente o sistema de Filolau, Platão abandonou a idéia da Héstia e da Antiterra, recolocando a Terra no centro do mundo e devolvendo-lhe a imobilidade.

Nenhum comentário: