segunda-feira, 24 de março de 2008

ACHEGAS GENIAIS

EU e outros poetas

('É porque nada sou que tudo sinto!' - Augusto Frederico Schmidt)


EU, que comecei a morrer muito antes de ter vivido...

EU, que perdi o bonde e a esperança...

EU, que te peço perdão por te amar assim tão de repente...

EU, que comigo me desavim, não posso viver comigo, não posso fugir de mim...

EU, que te quero verde, verde vento, verdes ramas...

EU, palhaço das perdidas ilusões...

EU, que te direi as grandes palavras...

EU, que ganhei (perdi) meu dia...

EU, uma educação pela pedra, por lições, para aprender da

pedra, freqüentá-la...

EU, que guardo no peito a imagem querida do mais verdadeiro,
do mais santo amor...

EU, que trago-te flores - restos arrancados da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa, e separados...

EU, que serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade
e saio da vida para entrar na História...

EU, que até morrer estarei enamorado de coisas impossíveis...

EU, que errei, fui homem...

EU, que nada posso lhes prometer, a não ser sangue, suor e lágrimas...

EU, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas...

EU, que na curva perigosa dos cinqüenta derrapei neste amor...

EU, eunuco, reles, verme, incauto e sagaz...

EU! Ai do que em mim me chamo EU!

EU? EU sou o Incriado de Deus, o demônio do bem e o destinado do mal, mas EU nada sou!


Observação do gozador, no quadro-negro


- EU, filho do carbono e do amoníaco, já Bocage não sou.

2 comentários:

Anônimo disse...

Este acréscimo,e coletânea de frases mostra um autor triste, mas de muita inteligência por fazer um apanhado de vários poetas,musico,político,e ao mesmo tempo deixar vir a tona seu Eu sofrido, fazendo um balanço de sua vida até o momento:Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Jose Chagas Maciel, Frederico Garcia Lorca, Silvio Caldas e Antonio Costa,Thomas Maria(desilusão), Jocio C. de melo, Casimiro de Abreu,Getulio Vargas, Jorge Forbes, Alvaro de Campos; Quarto em desordem(drummond)Vinícius de Moraes, e por ultimo Augusto dos Anjos que nega qualquer idealização da vida, por ser materialista e pessimista.O seu Eu lírico se diz filho da matéria, de algo concreto, e que irá desaparecer por aquele operário que a vida declara guerra.
É uma imagem paradoxal criada pelo poeta.Achei que é a realidade;pois cada um usa sua persona, sua máscara para representar mesmo sofrendo na vida material,um amaranhado de miragens concretas que nos afastam do Caos Absoluto, pois trabalhamos para sustentar certa ordem que costumamos chamar de EU. Gina

Anônimo disse...

Observação: Augusto dos Anjos poeta Paraibano viveu 30 anos em Leopoldina Minas Gerais, entre 1884 a 1914.Gina