A teoria heliocêntrica de Copérnico, apresentada na primeira metade do século XVI, revogava a ideia da centralidade e fixidez da Terra, mantendo, porém, a concepção de um mundo supralunar imutável, constituído pela “quinta essência”, um elemento diferente de água, ar, terra e fogo, existentes na Terra. Também não alterava o dogma dos movimentos planetários circulares e uniformes.
Outros conhecimentos e descobertas seriam ainda necessários para complementar a revolução copernicana, eliminando de modo cabal as concepções de Aristóteles. A primeira grande contribuição para isso foi dada por Tycho Brahe, por suas observações que feriam a reputação do sistema supralunar incorruptível e pelos dados astronômicos que colheu com precisão meticulosa, ensejando a Johannes Kepler a oportunidade de estabelecer as leis dos movimentos planetários.
Seria um novo planeta?
Nascido em uma família rica da Dinamarca, Tycho Brahe (1546-1601) aos treze anos foi enviado para a Universidade de Copenhague e aos dezesseis, para a Universidade de Leipizig, antes de passar pelas universidades de Rostok e Basileia. Em 1566, com vinte anos, por causa de uma disputa intelectual, envolveu-se num duelo com seu primo Manderup Parsberg, do qual saiu sem um pedaço do nariz, que foi substituído por uma prótese de metal, que escondia perfeitamente a parte mutilada.
A família o queria estudando leis. Cedo, porém, Tycho adquiriu gosto pela astronomia, depois que, em 1560, com apenas 14 anos, observou um eclipse parcial do Sol. Da observação dos astros, passou à medida de suas distâncias, sempre com esmero e precisão.
Tycho Brahe tornou-se conhecido por causa de uma estrela supernova, que observou em 11 de novembro de 1572. A "estrela de Tycho Brahe", como ficou conhecida, foi observada por astrônomos e sábios de toda a Europa até março de 1574, quando desapareceu.
- Seria um meteoro? Seria um novo planeta?
Feitas todas as verificações, constatou-se que era uma "estrela nova", conforme denominação que recebeu do próprio Tycho Brahe, num livreto, de 1573, a que deu o título de "De nova stella".
Naquela época não se tinha nenhuma explicação para uma supernova, nem havia conhecimento suficiente para fazer alguma hipótese a esse respeito. Seu aparecimento, contudo, derrubava a premissa de Aristóteles de que o mundo supralunar era imutável, ou, como afirmava, "incorruptível."
- Como imutável, se nele podia surgir uma supernova?
O que é uma supernova?
A maior parte da matéria do Universo consiste de hidrogênio, que se reúne em grande quantidade para formar as estrelas. Numa temperatura muito elevada, quatro átomos de hidrogênio fundem-se num átomo de hélio, liberando energia. É o que ocorre no núcleo das estrelas, onde de início se produz hélio, seguindo-se com o tempo a produção dos outros elementos, como carbono e oxigênio.
Nesse processo, a massa da estrela é puxada da periferia para seu centro, devido à atração gravitacional, que é contrabalançada pela pressão exercida do centro para a periferia em decorrência das altas temperaturas no núcleo da estrela, onde vai se dando a fusão dos elementos.
Um equilíbrio que se rompe depois de alguns bilhões de anos. Pois, perdendo energia por irradiação de calor, a estrela entra finalmente num estágio de degeneração e acaba explodindo, quando suas camadas externas são ejetadas a milhares de quilômetros por segundo. O resultado é um gigantesco objeto luminoso, chamado de estrela supernova, que, sozinha, pode brilhar, durante um curto espaço de tempo, com intensidade maior que uma galáxia de bilhões de estrelas.
A estrela vista por Tycho sempre esteve lá, mas só se tornou grande e suficientemente luminosa quando se tornou uma supernova.
Cometa
Em 1577, um cometa de longa cauda apareceu no firmamento. Brahe demonstrou, com provas, que o astro passava a uma distância mais que seis vezes a distância entre a Terra e a Lua, atravessando as supostas esferas invisíveis, numa nova contradição com a premissa de um mundo supralunar, divinal e imutável.
Castelo do Céu
Em 1576, Tycho Brae recebeu de presente de Frederico II, rei da Dinamarca, a ilha de Hven, onde construiu um observatório, Uraniborg (Castelo do Céu), no qual fez uso de uma variedade de instrumentos (quadrantes, rodas, sextantes e esferas amilares rotativas), para perscrutar o céu. Construiu adicionalmente uma instalação subterrânea, para guardar os instrumentos, além de biblioteca, gráfica, laboratório de alquimia, fornalha e prisão para servos relapsos.
Uraniborg cresceu a ponto de tornar-se uma cidade, enquanto Tycho elevava a astronomia observacional a um estágio sem precedente, advindo-lhe em consequência enorme reputação internacional.
Encontro com Kepler
Em 1588, com a morte de Frederico II, Tycho Brahe perdeu o financiamento de suas atividades, sua casa e posição. Só em 1597 mudou-se para Praga, onde chegou carregando seus instrumentos, ficando sob a proteção do imperador Rodolfo II. Foi lá que contratou como assistente o astrônomo alemão Johannes Kepler, a quem, antes de morrer, em 1601, confiou todos os seus dados sobre as estrelas e um cuidadoso trabalho sobre o planeta Marte.
No leito de morte, Brahe repetiu várias vezes para Kepler:
- Que eu não tenha vivido em vão.
Realmente não viveu em vão, pois, trabalhando com os dados de Tycho Brahe, Kepler iria derrubar a premissa dos movimentos circulares e uniformes, ao publicar em 1609 o livro "A Astronomia Nova", com as três leis dos movimentos planetários.
Sistema de Tycho Brahe

Lua e Sol em torno da Terra; os outros planetas, em torno do Sol
Cabe registrar que Brahe não aderiu ao sistema heliocêntrico, apesar de possuir um exemplar do "De Revolutionibus Orbium Coelestium" e de ser receptivo às ideias de Copérnico. Não conseguia imaginar uma explicação para a gravidade sem a centralidade e fixidez da Terra, nem aceitava nenhuma solução que contrariasse as Escrituras. Foi por isso que concebeu um sistema híbrido, esdrúxulo, que alguns chamam de geo-heliocêntrico: a Terra fixa, no centro, com o Sol e a Lua girando em seu redor; todos os planetas, exceto a Terra, girando em torno do Sol.
O sistema geo-heliocêntrico, que chegou a ter boa aceitação, na época, lembrava o de Heraclides do Ponto (que considerava Vênus e Mercúrio girando em torno do Sol e tudo o mais girando em torno da Terra).
Seja, como for, a importância de Tycho Brahe está nos dados que obteve e nas observações da supernova e do cometa de 1577, que contribuíram para demonstrar a inexistência do mundo supralunar divinal e, pelos dados que serviram a Kepler, o erro de considerar os planetas dotados de movimentos circulares uniformes.
Ainda bem que bem ou mal,mesmo que às vezes achemos que caminhamos muito lentamente, têm surgido através dos tempos,homens que sempre acrescentam algo importante
ResponderExcluirpara a evolução do planeta.E ainda bem, também,(!)que existem pessoas que fazem questão de passar adiante os seus conhecimentos.Também é uma forma de acrescentar algo para as pessoas, e não deixa de ser um ato de generosidade.