sábado, 31 de agosto de 2013

UMA MULHER, UMA CAMA

UMA BOA ETERNIDADE
 

Um instante de amor vale por uma boa eternidade, pensou Estevinho quando Pascale se deitou a seu lado. Nua assim, magnífica assim.  

Uma mulher

- A mulher é a perfeição, espero que Aristóteles tenha dito isso, ele que se meteu em tudo.

Uma cama

 - Minha pátria é minha cama. Quanta obra-prima, livros, filmes, peças e canções há sobre mesas, pianos, luvas, colares, retratos e outros variados objetos. Um texto de Rubem Braga exalta o guarda-chuva, veja só, um objeto que tem a particularidade de ser esquecido na primeira estiada. Sobre cama, porém, tudo que Estevinho conhecia era a história do homem traído que, ao separar-se da mulher, doou-lhe tudo que possuía, menos a cama.  Se a cama tivesse ido com ela, teria perdido a própria alma, além da mulher.




sábado, 24 de agosto de 2013

CORA CORALINA

Oração do Milho


Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento dos porcos e do triste mu de carga.
O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor, que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.

Cora Coralina (1889-1985)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ADÉLIA PRADO

AMOR FEINHO

- Eu quero amor feinho.
  
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.

Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.

Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada.

Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem e você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança: eu quero amor feinho.


Adélia Prado (nascida em 1935), em "Bagagem"

sábado, 10 de agosto de 2013

VOCÊ PODE CONTRIBUIR COM UM VERSO

Ó EU ! Ó VIDA!



Ó eu! Ó vida!... das questões que sempre reaparecem;
Das legiões sem conta dos que não têm fé;
Das cidades repletas de tolos;

De mim próprio sempre a me censurar

(pois quem seria mais tolo que eu e quem teria menos fé?)
;
Dos olhos que inutilmente anseiam pela luz;
Das coisas ordinárias;
Do esforço sempre renovado;

Dos medíocres resultados de tudo;
Das multidões trôpegas e sórdidas que vejo no meu entorno;
Dos anos vazios e inúteis de todo o resto, eu integrado nesse resto,

Vem a questão (ó eu!) tão triste, recorrente:
O que há de bom no meio de tudo isso, ó eu, ó vida?

Resposta:


Você está aqui - a vida existe, e existe a identidade;
O poderoso espetáculo vai continuar, e você pode
contribuir com um verso.

Walt Whitman (1819-1892)

sábado, 3 de agosto de 2013

 PIADA DE ECONOMISTA


 Alguns cuidados são essenciais para não perturbar a vida econômica de um país, alertou o conferencista.

- Por exemplo?

- É impatriótico casar com a governanta, pois um salário é imediatamente cancelado, diminuindo a renda nacional.

Todos riem.


- Estão rindo? Será que vocês ousariam pedir recibos às suas mulheres? Se o fizessem, poderiam abater suas mesadas dos rendimentos tributáveis, mas elas teriam de fazer declaração de renda!

- Boa ideia, professor, boa ideia!


Piada de economista é sempre assim, magnificar a renda nacional, não casar com a governanta, deduzir a mulher no imposto de renda...