quarta-feira, 28 de maio de 2008

DE THALES PARA ELISA (DEVER DE CASA)

Vinte Dicas Sociais

(1) Evite fazer barulho, sobretudo à noite, para não incomodar o vizinho do apartamento de baixo. Se necessário, faça sexo no chão.


(2) Tente impedir seu cachorro de latir, pois o vizinho pode se aborrecer e latir também.

(3) Não fume sem pedir permissão e, se lhe derem, ignore-a completamente, que o fumo provoca câncer no pulmão, na língua, nos lábios, na garganta e no esôfago.

(4) É profunda falta de respeito chegar atrasado a um encontro presidencial, a não ser que o presidente seja você.


(5) Só os bons amigos devolvem livros emprestados, mas é bom ter em mente que bons amigos nunca pedem livros emprestados.


(6) Ajude a mulher quando for tirar o casaco e, igualmente, quando for tirar o resto.

(7) Não interrompa uma pessoa que estiver falando, a não ser em caso de terremoto. Lembre-se, entretanto, que no Brasil são muito raros os terremotos, tanto quanto os pingüins...

(8) Se você for convidado para um jantar, não peça para levar a sua tia, salvo se o convite reconhecer que você tem problemas de orçamento.


(9) Peça desculpas se o seu estômago roncar e, se a causa do ronco for a fome, peça também uma sopa e bolachinhas.


(10) É grosseria imperdoável sair do seu lugar, num restaurante, para conversar com um conhecido em outra mesa. Seja como for, é o único recurso se você esquecer a carteira e precisar do amigo para pagar a conta.

(11) Use os talheres de fora para dentro, mas só quando os pratos forem servidos.

(12) Parta o pão francês com as mãos, pois com os pés é mais difícil.
(13) Se seu namorado convidá-la para comer uma pizza, nunca diga “prefiro uma lagosta”. Se o fizer, não se esqueça de acrescentar: “eu pagarei a conta”.


(14) Trate todas as piscinas como se fossem a sua, sem, entretanto, urinar na água.


(15) Se um convidado chegar com um animal, diga "não" aos dois.


(16) Nos museus nunca toque nas obras de arte, pois as obras de arte nunca tocam em você.


Olympia, de Édouard Manet

(17) O homem deve abrir a porta do táxi para a mulher, sendo certo que ela não conseguirá entrar se a porta estiver fechada.



(18) O homem não deve vestir smoking antes das seis da tarde, mas isso não lhe servirá de desculpa se você for for apanhado, nu, com a secretária.



(19) Não há problemas em aceitar convites para reuniões open house, para jantares potluck, para
encontros de happy hours e para festas de housewarming, mas é sempre bom consultar um bom dictionary, pois o desavisado pode acabar num brunch, bebericando screwdriver ou bloodmary, tendo um kosher como appetizer, tudo ao som de música klezmer.

(20) Quando dois casais saem para jantar, a conta deve ser compartilhada, mas só a conta.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MEU PROFESSOR DE HISTÓRIA

A prova final

- História é tudo, menos as nossas miudezas.

- Menos as miudezas

Tibério Gardênio ainda comentou sobre Pero Vaz de Caminha, o escrivão que se aproveitou da carta ao rei Dom Manuel para pedir pela regeneração do genro marginal, preso na Ilha de São Tomé. Nunca se deve esquecer, portanto, que o regime do pistolão foi instituído na certidão de nascimento do Brasil.

- Mas o Pero tinha lá o seu estilo, o oportunista, o velhaco!

Uma definição generalizante de História, que tanto podia abranger tudo quanto não abranger coisa nenhuma, e a execração impiedosa do escrivão do Descobrimento. Mais não houve, só miudezas, pois Getúlio Vargas foi sua obsessão e assunto exclusivo pelo resto do semestre. Lembro-me de seus inesgotáveis comentários, que denotavam uma insistente, minuciosa e quase visceral proximidade com o Presidente:



- Quando amarrava seu cavalo no Obelisco, Getúlio Vargas voltou-se para mim e disse, triunfante: "Tibério, esta é a revolução da vitória!".


- Getúlio presenteou-me com este relógio de ouro, que trago comigo para contemplação e gáudio de todos vocês.

- Certa feita, no Catete, perguntei-lhe: qual a sua filosofia, meu Presidente? Mestre, respondeu-me o grande líder, minha filosofia é a filosofia do momento.

A História ficou portanto sem nenhum currículo, e Getúlio Vargas não era ponto do exame. Os alunos teriam de comparecer à prova sabendo apenas que História é tudo, menos as miudezas da humanidade, e que o nome do genro de Pero de Caminha era Jorge de Osório. Segundo a mãe do Pedrinho, que era advogada e professora de piano, o pedido foi atendido em 1501 pelo rei Dom Manuel I, dito o Venturoso, quando soube da morte do escrivão em conseqüência de um ataque dos árabes à esquadra de Pedro Álvares Cabral.

- Mas isso ele não mencionou, nem de leve.

- Quem sabe então o nome do palácio onde Getúlio se matou ou o do monumento no qual amarrou o cavalo?


Tibério Gardênio não perguntou nada disso. Ele tinha um método singular para aplicação de provas e, a cada questão, acrescentava comentários irreverentes, mas esclarecedores.


- Onde Napoleão foi derrotado? Em Waterloo, seus idiotas!

- Em que cidade nasceu Cristóvão Colombo? Muita gente importante, aqui de Barro Verde, acha que Gênova, a grande Gênova, é capital de Minas Gerais, ora vejam, Gênova, a grande Gênova, ser considerada a capital de Minas Gerais!

Gênova

- Mencione alguns diplomatas importantes da História do Brasil. Pitecantropos de todo o mundo, uni-vos e citai, para uma resposta menos irresponsável, os nomes ilustres de Alexandre de Gusmão, Rio Branco, Rui Barbosa, Oswaldo Aranha...

Foi então que não me contive e exclamei: Caldeira Brant!


- Quem disse Caldeira Brant?, perguntou o professor, surpreso e aparentemente indignado.

Não tive saída, levantei a mão e, esperando pelo pior, confessei: fui eu...


- Pois me entregue sua prova e pode retirar-se da sala.


- Estou perdido...

Sofri durante duas semanas a dolorosa angústia dos que estão na iminência de receber uma dura punição. Eu podia ser reprovado e, pior ainda, expulso do colégio. Felizmente, porém, este foi um receio sem fundamento nem concretude, pois o professor me contemplou com a única nota dez da prova de História.


- Valeu, Tibério Gardênio! História é tudo, menos as nossas miudezas!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

TUDO É POSSÍVEL

Pensamentos de um vitorioso acidental

Tudo se passa, quem diria, como se matéria atraísse matéria, na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Tenho todo o direito de não acreditar na gravidade, e até de ser contra ela, mas não consigo viver sem seus efeitos.

Com seis anos, Mozart já compunha extensas sinfonias, absolutamente geniais. Com seis anos, que fazia eu com seis anos, meu Deus?

Mozart

Na sua turma, de 58 alunos, Napoleão Bonaparte classificou-se em quadragésimo-segundo lugar. Melhorou muito com Josefina Bonaparte, para a qual chegou em segundo lugar, logo após o Visconde de Beauharnais.

Matusalém, filho de Enoque e pai de Lameque, viveu 969 anos, de 12 meses, de 30 dias, de 24 horas. Está na Bíblia.

Às vezes um grito pode valer mais do que uma tese. Sabe-o muito bem quem viu um filme do Tarzan, com Johnny Weissmuller, ou, melhor ainda, o “Moderato Cantabile”, com Jeanne Moreau.

Leucipo de Abdera estabeleceu a noção do átomo 400 anos antes do nascimento de Cristo, num exercício de imaginação para suprir sua carência de aceleradores de partículas. Ele estava certo, concluiu, ao microscópio, em 1911, o físico Ernest Rutherford.

Um pássaro marinho, a cagarra, que nunca tinha saído da ilha de Skockholm, na Grã-Bretanha, foi solto a 4.900 km de distância, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Voando em linha reta, e sem errar o caminho uma única vez, em 13 dias já estava de volta ao seu habitat. E eu, pobre de mim, sempre perdido pelos caminhos da vida!

Os sapatos que Judy Garland usou no “Mágico de Oz”, oferecidos em leilão, foram arrematados por 165 mil dólares. Uma mixaria, e isso pode explicar por que Liza Minnelli se viu forçada a trabalhar no Cabaré.
O marechal alemão Friedrich von Paulus, que se entregou aos russos em 1943, só foi libertado dez anos depois; pior fez o japonês Massumi Sassahara, que reapareceu em 1996, cansado de esconder-se da Segunda Guerra Mundial, cujo final foi celebrado em maio de 1945. Abaixo as guerras mundiais, os marechais alemães e os japoneses desinformados!

Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, qualquer que seja o idioma. Tanto que os franceses, desde Lavoisier, vivem repetindo para quem quiser ouvir:

- Tout casse, tout passe, tout se remplace.


A astrologia é uma ciência com a qual, ou sem a qual, o mundo permanece tal e qual.


- Você é medalha de ouro.

E eu, um contumaz e empedernido despossuidor de mulheres, acabo de ser exaltado por uma deusa, que só veio a mim porque errou de cama. Pois ela
, ao se despedir, me disse emocionadamente: “você é medalha de ouro.”

- Medalha de ouro, eu, medalha de ouro, senhoras e senhores!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Meu professor de Inglês

Vaca-rapaz

Não me lembro de nenhum professor especialmente preparado, nem de colegas muito inteligentes. Éramos, de fato, uma assembléia de mediocridades, considerados ambos os lados da mesa. Eu, pobre de mim, sempre gostei de problemas de aritmética, palavras cruzadas e quebra-cabeças, e tinha um desempenho saliente em Inglês, o que não chegava a ser nenhuma façanha, nem podia ser avaliado, pois o professor era daqueles que traduziam “cowboy” por “vaca-rapaz” e “what does he do?” por “que faz ele fazer?”

- Doutor Vacaria, não seria melhor traduzir “cowboy” por “vaqueiro” e “what does he do?” por “o que ele faz?”

"vaca-rapaz"

Como o professor nada respondeu, entendi que havia sido grosseiro e inconveniente. Mais uma vez, sim, mais uma vez. Para minha surpresa, porém, ele voltou ao assunto na aula do dia seguinte, embora de forma indireta e metafórica. Elogiou o padre Eleutério, que sempre se penitenciava dos seus erros, a inteligência de Santo Agostinho, que na fé conheceu a razão e a felicidade, e a humildade de Francisco de Assis, que se dedicou a um ideal de pobreza e por isso recebeu os estigmas das chagas de Cristo.

- À estupidez sempre há de contrapor-se o discernimento, e só os idiotas não mudam. Prevaleçam, pois, a razão e a verdade, mas também a inteligência, para reconhecer os equívocos, e a humildade, para proclamá-los sem nenhum constrangimento. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

A custo consegui entender que Yrves Vacaria de Bastos Viamão estava aceitando a minha sugestão. Desde então “vaca-rapaz” e “o que faz ele fazer?” perderam a vez para “vaqueiro” e “o que ele faz?”, nas aulas de Inglês de Barro Verde. E não era só, pois fui dispensado dos exames finais e aprovado com nota oito, vírgula três.

- The rest is silence.

- The rest is silence.